Marlene Soberano

PESSOA GENERATIVO

Como sabemos o que seria se nem ele sabe o que foi?



Conceito

“Pessoa Generativo. Como sabemos como seria se nem ele sabe o que foi?” é um projeto de poesia generativa, com utilização de textos originais de Fernando Pessoa. Utilizando um jogo de palavras, partindo de um dos seus versos mais icónicos “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?”, este projeto pretende evocar o espírito multifacetado do poeta, constantemente atormentado pelas inúmeras almas que nele surgiam e pela impulsividade da escrita.

 

Apela igualmente ao imprevisível, à impossibilidade de prever o output da criação literária de forma generativa, e, dessa forma, representa esta questão em aberto que remete para a nossa imaginação: se Fernando Pessoa vivesse na atualidade, como seriam, hoje, as suas criações literárias?

Com este projeto pretende-se perpetuar o renascimento do poeta (ou a sua continuidade artística) na era digital e oferecer a possibilidade de contemplação da sua evolução na atualidade, como uma extensão dos pressupostos deixados pela sua heteronímia, musicalidade e tonalidade dos seus versos.

O público poderá ter uma experiência de ser o poeta, ele-próprio, colocando-se no seu lugar, sentindo-se na sua pessoa enquanto autor e criador de textos generativos, “assinados” por um novo heterónimo – o autor de poesia generativa – Tomás Xavier.


Instruções de utilização

A fruição de Pessoa Generativo é experiência individual. Antes de iniciar a experiência de criação de texto generativo, o público/leitor deverá conhecer um pouco sobre Tomás Xavier. Este heterónimo possui uma história, uma personalidade própria, pelo que, conhecer um pouco da sua pessoa poderá melhorar a experiência de interação com artefacto. O programa possui diferentes páginas web, pelo que será importante seguir a sua narrativa, não saltar etapas, usufruindo de toda a componente visual e sonora e de uma experiência completa.

  1. Assistir o vídeo inicial, e “ouvir” a mente do poeta. Este momento representa a génese de Tomás Xavier, materializada nas várias vozes que se fazem ouvir. Quando se fizer silêncio pode seguir para a página seguinte.
  2. Assistir o vídeo imersivo, onde serão estimulados diversos sentidos em simultâneo. Este vídeo transmite ao público/leitor a sensação de ser parte integrante da ação, e no momento da criação escrita, é automaticamente encaminhado para a página seguinte.
  3. O público/leitor pode usufruir da experiência de criar poemas generativos, por temas, utilizando os botões disponíveis para o efeito. Cada um oferece diferentes experiências visuais e auditivas. Pode optar por guardar textos gerados. Ao finalizar a experiência, pode deve continuar para a página seguinte.
  4. Assistir o vídeo final que completa a experiência de imersão do segundo vídeo, onde se despede de Tomás Xavier. Quando o vídeo termina, o programa reinicia, ficando pronto para apreciação da próxima pessoa.

Objetivo de intervenção/comunicação

Este projeto procura proporcionar experiências visuais/sensoriais, apoiadas na “surpresa”, e novidade a cada poema gerado, podendo também causar estranheza, na desconstrução de poemas representativos do poeta. Utilizando o programa para geração automática de textos desordenados, por temas selecionados, criados com recurso a um dicionário lexical composto de textos originais de Fernando Pessoa, a semântica dos novos textos transportará as palavras do poeta para novas criações textuais, incentivando o questionamento e a imaginação do público quanto ao que poderia ser um Fernando Pessoa nos dias de hoje. Apelando a sensações e emoções, experiências visuais e sonoras, a sua fruição oferece uma experiência diferenciada no contacto com a poesia pessoana. Também possibilita a criação de novas criações literárias, “assinadas” por um novo heterónimo – Tomás Xavier, resultantes da compilação de textos gerados e guardados pelo público, no decorrer da sua experiência.


Diário Digital de Bordo

https://ddbmsoberano.blogspot.com/


Tecnologias e técnicas utilizadas 

O resultado deste projeto é fruto do desenvolvimento de um programa que inclui a combinação de diferentes técnicas e tecnologias:

  • Vídeos AI: Deforum_Stable_Diffusion.ipynb
  • Vídeos Tomás: MovieStorm
  • Vozes: TTS – https://freetts.com/
  • Música: Pixies, Where Is My Mind (piano), obtido no youtube em:
    https://www.youtube.com/watch?v=XxthmuqWF1Q
  • Sons Typewriter: SoundJay, clips obtidos em:
    https://www.soundjay.com/typewriter-sounds.html
  • Miro Video Converter: Utilizado para conversão de formatos de som e vídeos para mp4
  • Online Mp3 cutter: Utilizado para manipulação de clips de som, corte e efeitos, disponível em: https://mp3cut.net/
  • Versionamento e hospedagem: Gits e GitsHub
  • Editor: Visual Studio Code
  • Programação: HTML, CSS, JavaScript e P5.js

Referências e influências estéticas

As referências e influências estéticas neste projeto são evidentes. Por um lado, a poética pessoana povoada de heterónimos que, apesar de serem reconhecidos como a marca identitária de Fernando Pessoa, continuam a provocar discussão e discordância entre os seus estudiosos. Para alguns, o fenómeno vai além da escrita, tendo bastante influência da psicologia deste autor que era, em si, muitos autores. Para outros, é apenas um jogo literário dispensável para a apreciação da sua obra. Por outro lado, a arte generativa aliada à escrita e à poesia experimental no panorama da literatura portuguesa. Estas formas de criação artística têm vindo a ser explorados pelos autores do projeto PO.EX. As influências neste projeto surgiram particularmente do trabalho de Rui Torres, com a sua investigação criativa – Um Corvo Nunca Mais – enquanto “polifonia de elementos variados (e variáveis) sujeitos a uma encenação não-linear”.


Marlene Soberano, natural de Aveiro, é licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas (FLUL), licenciada em Engenharia Informática (ISTEC) e Mestre em Informática – Dispositivos Móveis e Multimédia (ISTEC). Atualmente trabalha para a Capgemini Engineering como Consultora Informática, em Quality Assurance, contribuindo para a maior eficiência da produção de projetos informáticos, de acordo com os níveis de qualidade exigidos. Em 2022 aventurou-se num novo percurso, tornando-se doutoranda em Média-Arte Digital (UAlg/UAb), explorando novas áreas de conhecimento e possibilidades para o futuro.