Conferência de Abertura | Regilene Sarzi Ribeiro
Performatividade videográfica e processos criativos com IA generativa – aspectos éticos e estéticos
Nos últimos anos houve um aumento exponencial de ferramentas de inteligência artificial generativa para produção de vídeos, open source (Stable Video Diffusion; AnimateDiff; PIAPipeline), seguido de uma avalanche de deep-fakes e também, a manifestação de artistas e criadores a respeito do impacto dessas ferramentas no processo criativo e no mercado.
Neste estudo, entende-se por performatividade videográfica, o exercício performativo da linguagem, a partir do qual o vídeo se projeta por sua atuação social, contamina a expressão e a comunicação audiovisual e se torna uma linguagem imperativa, onipresente e ubíqua, um fenômeno cultural que contamina comportamentos humanos e é subvertido e reescrito pelo homem continuamente. Neste cenário, a complexidade de produzir novas audiovisualidades no campo experimental reflete-se numa experiência estética efémera e fragmentária que opera em fluxo e através de uma manipulação vertiginosa da imagem e do movimento. Esta manipulação rápida e, por vezes, impulsiva da imagem em movimento tem sido promovida pela indústria da IA para alimentar o capitalismo de dados e, ao promover a utilização de ferramentas gratuitas de inteligência artificial, apropria-se de bancos de vídeos para alterar a estética e recombinar imagens e sons, com a intenção de produzir audiovisuais com outros recursos de máquinas que não sejam câmeras.
Em resumo, as imagens em movimento resultantes da IA continuam a ser o resultado de codificações abstratas traduzidas em visualidades herdadas de imagens numéricas, geradas por processos de aprendizagem automática e/ou aprendizagem profunda. A partir da análise, tendo como base a Filosofia da Tecnologia, dos aspectos éticos e estéticos de um conjunto de obras de arte produzidas por artistas que utilizam ferramentas de IA generativa, o estudo observou que a experiência efêmera e fragmentária é fruto da estética algorítmica somada ao que esta se nomeando poética da hiperedição e que os processos criativos em vídeo, decorrentes dessa poética, tem papel central na ruptura do esvaziamento de sentido provocado pela Infocracia e lógica dos dados, desafiando a ordem programadora dos dispositivos técnicos para denunciar vieses éticos, rumo à promoção de novas possibilidades criativas, com a clareza de que se trata de um processo de automação e que para subeverter é preciso conhecer a caixa preta da IA.
Palavras-chave: performatividade videográfica; vídeo e IA generativa; ética e estética em processos criativos com IA
Regilene Sarzi Ribeiro
é Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Pós-doutorado em Performances Culturais pela UFG e em Artes pela UNESP. Coordenadora do PPG em Mídia e Tecnologia e docente dos cursos de Artes Visuais e Comunicação: Rádio, TV e Internet da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design/UNESP. Líder do grupo de pesquisa LabIMAGEM/CNPq. Desenvolve pesquisas em Teoria e Crítica da Arte e da Tecnologia, Media Art, Artes do Vídeo, Artes Audiovisuais, Corpo e Imagem-Performance, Techno-Imagens, Videoartivismo e Curadoria Ativista, envolvendo Audiovisualização da Cultura, Audiovisualidades, Videoarte e Arte Generativa.