Artist Talk | Ana Marques

ARBOR

Criada em 2015 por Ana Marques e Rui Gaspar, a ARBOR tem feito um percurso longo e único. Apresentada na 18ª Bienal de Cerveira em 2015, passou por diversos espaços expositivos ao longo dos últimos anos, esteve presente nas escolas do AELAVQ, e proporcionou aos utilizadores experiências únicas, porque a Arbor é uma obra singular.

Chamemos “interactores”, designação original, às pessoas, que, não se limitando a ver e a olhar, se dispõem a perscrutar, pesquisar e interagir. A Arbor, instalação interativa, entrega-se às pessoas. Deixa que, sem que se lhe toque, o “interactor” interaja com ela através de um modo original de escrita, sem papel, sem caneta, sem touchscreen, só pela presença e intenção, pela aproximação da mão a uma letra que despoleta a ativação dos seus frutos sensoriais.

Letra a letra, a palavra é construída e, de seguida, é enviada para um ecrã externo, que apresenta uma imagem. A palavra escrita e enviada figurará nessa imagem que resulta, finalmente, numa construção coletiva.

DESPERTA-DOR

O título despertaDOR representa o exacto sentido da obra, que pretende transmitir uma mensagem, consciente de que o faz através do despertar de algum incómodo, que pode ser “dor”, dependendo da sensibilidade do espectador.

O projeto foi apresentado na ParatissimaLisboa, que teve lugar em Alfama em Julho de 2016. Posteriormente integrou a mostra da XIX Bienal de Cerveira, em Vila Nova de Cerveira, estando agora disponível para ser apresentado em outros contextos.

A obra tem a forma de um cubo gigante que se assemelha a uma jaula e é constituído por dois elementos físicos distintos: um corpo exterior construído por pequenas peças de crochet manual, tradicional, suportado por uma estrutura cúbica de alumínio; um corpo interior com a forma de um prisma quadrangular de madeira, que serve de suporte a quatro ecrãs de projeção. Cada um destes ecrãs transmite imagens (vídeo) distintas, em continuidade. Alguns quadrados de crochet desencadeiam mais informação que pode ser visualizada num ecrã de smartphone ou tablet, através do uso de uma aplicação de realidade aumentada (Aurasma) instalada nesses dispositivos.

Atrás de uma cortina de crochet, colorida e macia, como se de uma armadilha se tratasse, são projetadas imagens que representam a realidade que os animais vivem atrás de jaulas e dentro de gaiolas. A forma interpela as pessoas, fazendo-as aproximar para ver o que se passa no seu interior.

Os vídeos têm como tema a sustentabilidade do planeta, a exploração animal pela indústria alimentar, os maus tratos e sofrimento gratuito inerentes a essa exploração, e toda a dor presente em formas de entretenimento que exploram os animais, como a tourada ou o circo. Trata-se de actividades encaradas pela maior parte das pessoas como “tradições” normalíssimas – para as quais “todos” contribuímos com a “nossa” falta de informação, de sensibilidade, comodismo ou pura inépcia.

A apropriação da arte popular deu-se nas tardes passadas a tricotar em grupo para construir o corpo exterior colaborativo desta obra (foram 20 as tricotadeiras). Esta tradicionalidade dos materiais e técnicas, tal como a tradição popular que serve de tema aos vídeos, combinam-se com segmentos de media-arte actuais (realidade aumentada), resultando uma obra híbrida, interventiva e potencialmente polémica.

Ana Cristina Marques desenvolve trabalho em Design de Comunicação, área em que o seu trabalho tem maior expressão. Frequenta o Doutoramento em Média-Arte Digital na Universidade Aberta/Universidade do Algarve, após conclusão do Mestrado em Comunicação Educacional Multimedia. Licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, é professora de Artes-Visuais e assessora da direção do agrupamento de escolas onde trabalha.

Tem vários trabalhos publicados na área do design gráfico, web-design e vídeo (logos, capas de livros, cartazes, brochuras, sites). Entre as suas criações mais recentes, conta-se a peça/obra “Cibercabeçudo” (2015) exposta no Espaço Invitro, da Universidade Aberta em Lisboa. Em 2015 apresentou a instalação “Invisível a teus olhos” em Silves, exposição integrada no II Retiro Doutoral DMAD, da Universidade Aberta. Tem realizado trabalho na área da media-arte digital, tendo concebido, em parceria com Rui Gaspar, o artefacto “Arbor” (2015, 2018, 2023). A sua instalação “despertaDOR” (2016) esteve presente na XIX Bienal de Cerveira, em Vila Nova de Cerveira 2017.