João Serrão
CRUEL VÍDEO
CONCEITO
Cruel Vídeo é uma videoarte que utiliza metáforas visuais e sonoras, como forma a evocar a presença e ausência do homem no território algarvio, e que pretende promover a reflexão e o questionamento do público, sobre a realidade de um território que se projetou, desenvolveu e é – maioritariamente – entendido, como sendo um destino turístico sazonal.
Conceitos-chave: Deriva, Artivismo digital, Sazonalidade, Algarve, Videoarte
INSTRUÇÕES DE UTILIZAÇÃO/USUFRUTO
Cruel vídeo possui duas formas de funcionamento e usufruto: apenas contemplativa ou ativada pela presença humana.
Na segunda opção, a participação e interação do público (pelo menos 1 pessoa) com a obra é essencial. Sem a presença humana, a obra não será ativada, impossibilitando o seu desenvolvimento e a total fruição da mesma.
A interação ocorre a partir do momento em que o artefacto deteta a presença do público:
- No início, antes da presença do público, o ecrã exibirá aleatoriamente 1 de 3 vídeos possíveis (vídeo 1, vídeo 2 ou vídeo 3) com som (a um volume relativamente alto);
- Quando a presença do público é detetada pelo artefacto, será acionado aleatoriamente 1 de 2 vídeos possíveis, relacionados com vídeo que estava a ser exibido (vídeo 1.1 ou 1.2 / vídeo 2.1 ou 2.2 /vídeo 3.1 ou 3.2). Estes vídeos serão sem som.
- A partir do momento em que o artefacto não detete a presença de público, o processo volta ao início e voltará a selecionar aleatoriamente 1 dos 3 vídeos iniciais.
OBJETIVO DE INTERVENÇÃO/COMUNICAÇÃO
Os vídeos que fazem parte de Cruel Vídeo, enquadram-se numa prática artística onde a imagem é utilizada, não apenas na sua vertente plástica ou pictórica, mas carregando em si uma abordagem documental (alguns do tipo found footage), sobre uma realidade que existe tal como aqui é apresentada e representada.
Relativamente aos objetivos que se pretendem atingir com o artefacto, é possível identificar dois objetivos principais.
O primeiro, pode ser considerado como um objetivo interior ou pessoal, pois é relativo à forma como o autor, procura – através das várias fases criação do artefacto (recolha de imagens – still e vídeo -, visualização e edição das mesmas, etc..) – aprofundar o conhecimento e o sentimento relativo ao território Algarvio. Refiro-me, principalmente, ao ato de deambular pelo território, algo que faço desde o início da minha atividade artística como fotógrafo, e que consigo – agora – identificar e relacionar com práticas como a psicogeografia e o derive (proposto por Guy Debord).
Vieira (2007), descreve o conceito de psicogeografia como efeitos emocionais diretamente induzidos pelo ambiente geográfico envolvente e, que a principal forma de investigação psicogeográfica é através da prática de derive, que consiste em vaguear ou perder-se deliberadamente na cidade, deambulando por diversos ambientes: a deambulação vista como prática artística.
O segundo objetivo é “externo”, relativo ao público. Neste caso, será que a visualização e usufruto do artefacto, consiga sensibilizar o público, e promover a reflexão e o questionamento sobre os impactos da sazonalidade turística no território Algarvio. Ainda assim, a possibilidade de observar diretamente a reação do público perante o artefacto, e a hipótese de conversar (mais ou menos formalmente) com o público sobre a sua experiência, voltam a tocar no nível de intenção anterior, de índole pessoal, onde se procura novas e diferentes visões e formas de relacionamento com o território. Os resultados – quer da observação, quer das conversas -, poderão – eventualmente – originar um input no processo de criação e evolução do artefacto, tal como afirma Veiga, relativamente ao processo
TECNOLOGIAS E TÉCNICAS UTILIZADAS
O artefacto só assumirá a sua forma final, após a montagem e adaptação ao espaço expositivo disponível. Será apresentado num ecrã/lcd de pequenas dimensões, que fará parte de uma instalação feita de/com alguns materiais e objetos relacionados com o tema, como: sombrinha, cadeira e toalhas de praia, boias, bolas, raquetes, brinquedos, areia e/ou outros.
Para o funcionamento do artefacto, foram utilizados os seguintes materiais:
- Computador Portátil com ecrã 13 polegadas;
- Coluna de Som;
- Webcam;
- Extensão elétrica tripla de 5 metros.
No que diz respeito ao processo de interatividade entre artefacto e público foi utilizado o cables.gl, usando a webcam como sensor de presença para alternar entre os vídeos iniciais (1, 2 e 3) e os subvideos (1.1 e 1.2 / 2.1 e 2.2 / 3.1 e 3.2). Este trabalho foi realizado com a preciosa colaboração do colega Rui D´Orey.
Diário Digital de Bordo: https://www.tumblr.com/blog/ddbjoaoserrao
João Serrão
Licenciado em Investigação Social Aplicada pela Universidade Moderna; Pós-Graduado em Turismo, Ambiente e Identidades Locais pelo ISCTE; Pós-Graduado em Gestão Cultural pela UALG, Mestre em Gestão Cultural pela UALG e Doutorando em Média-arte Digital pela UALG/Uab. Foi Vereador a tempo inteiro na Câmara Municipal de Mértola, entre 2002 e 2010, e 2013 e 2017, sendo responsável pelas áreas/pelouros da Cultura, Património e Turismo. Desde 2020, é o Diretor Artístico das Galerias de Arte Municipais de Loulé, sendo responsável pela sua gestão e programação expositiva.