Jaqueline Moreira

Liberdade por um fio



Conceito

A liberdade é um tema tão valioso, quanto negligenciado na sociedade moderna. Queremos ser livres e valorizamos a nossa liberdade, enquanto somos aliciados por discursos preconceituosos, racistas e xenófobos, que pregam o limite e o cercear da liberdade do outro. 

Este “outro” é visto como um inimigo, seja por vir de outro país, ter outro tom de pele, acreditar outras crenças ou seguir outro modo de vida, é alguém o qual não nos identificamos e vemos como um estranho. 

No entanto, a história nos mostra que a limitação do outro, seja ele qual for, é o primeiro passo para a limitação de todos, é uma questão de tempo para que o “outro” se torne “nós” e aos poucos toda a sociedade é privada da liberdade, calada e oprimida. 

A limitação da liberdade também faz parte da história de Portugal que, por mais de 40 anos, viveu sob as mãos duras de um governo ditador, que aos poucos limitou a vida do seu povo, controlando de conversas a livros, músicas e hábitos, com o objetivo de mantê-lo controlado e submisso. 

No entanto, mesmo com este passado sombrio, como é possível assistirmos discursos de ódio e preconceituosos serem tão sedutores em um país ainda com cicatrizes profundas, resultado da opressão, censura e prisões? 

Neste contexto, o título “Liberdade por um fio” foi escolhido por ser capaz de remeter a dois conceitos centrais neste projeto: 

  • A Literatura de Cordel, uma forma de democratizar conhecimento através de imagens e textos simples, disponíveis presos a cordéis. As mensagens são escritas em sextilhas, versos compostos por seis frases, que rimam nas 2ª, 4ª e 6ª linha. 
  • A ideia de a liberdade estar constantemente por um fio, uma vez que é frequentemente atacada a cada discurso de ódio ou tentativa de criação da ideia de um inimigo a ser contido dentro da nossa sociedade 

O objetivo é confrontar o público com algumas das restrições do governo ditador em Portugal, enquanto é levado a refletir sobre a fragilidade da liberdade e a necessidade de mantê-la viva para todos nós. 

Não precisamos chegar a assistir o tempo em que “nós” como sociedade nos tornamos o “outro” para o sistema, para que possamos nos levantar para lutar para sermos livres, esta é uma luta diária! 


Instruções de utilização

Os usuários podem interagir com as imagens apresentadas ao longo do cordel, nas quais encontrarão algumas das proibições mais absurdas durante o Estado Novo em Portugal, acompanhadas de uma sextilha, verso com seis linhas, e rimas usadas na Literatura de Cordel.

A interação, via Realidade Aumentada, é feita a partir da instalação do aplicativo Artivive nos telemóveis dos usuários e através do qual poderão visualizar todo o material criado para o projeto.

Há também um pequeno curta metragem, disponível pelo Artivive, o qual visa levar o público a repensar a liberdade. Este curta ainda pode ser visualizado na plataforma de vídeo Youtube, para ser acessado após a exposição.

Para complementar o projeto, ainda estará disponível aos visitantes, um perfil na rede social Instagram, através do qual poderão acessar outras informações sobre a repressão do Estado Novo, quizzes e curiosidades que visam complementar a ideia central deste projeto, a fragilidade da liberdade. Também através deste canal o público é convidado a participar da discussão sobre o tema, participando de enquetes e convidados a comentar em cada uma das postagens.

Objetivo de intervenção/comunicação

O projeto “Liberdade por um fio” é um convite a refletir sobre a liberdade, usando a ditadura em Portugal como pano de fundo para confrontar o público com a vida sob um Estado opressor, repensar as suas vidas caso vivessem em uma ditadura e um desafio para estarem atentos à necessidade de mantermos a liberdade viva para todos nós.


Diário Digital de Bordo


Tecnologias e técnicas utilizadas

Este projeto de Média Arte Digital (MAD) é um projeto de Narrativa Transmídia, que visa abordar o tema da liberdade a partir de três ferramentas: 

  • Realidade Aumentada 
  • Curta metragem 
  • Rede social 

O projeto consiste em 13 (treze) desenhos e animações digitais, que são visualizados pelo público, usando um aplicativo de Realidade Aumentada, a partir da interação com os folhetos expostos em cordéis. 

Estes folhetos, inspirados nos folhetos da Literatura de Cordel, consistem em desenhos em preto e traçados simples. Eles apresentam apenas trechos das imagens, as quais para serem descobertas, é preciso interagir via telemóvel. Este é mais um conceito inserido no projeto, uma vez que as imagens não são claras por si e necessitam que o público busque a informação “censurada” pela artista, uma alusão à censura, que escondia a informação e escolhia o que podiam acessar. 

Este projeto MAD, contém um curta metragem, que visa levar à reflexão sobre a liberdade e a falta dela. Assim como as imagens do artefato físico, todas as imagens da animação foram inspiradas no traçado simples da Literatura de Cordel e criadas digitalmente. 

Este vídeo estará disponível ao público da exposição, via Realidade Aumentada, mas também estará disponível na plataforma Youtube, para que possa ser acessado posteriormente. 

Para complementar a reflexão sobre o tema principal deste projeto, a liberdade, foi criado um perfil na rede social Instagram. Neste perfil, os usuários poderão conhecer outras proibições do Estado Novo, além de acessar curiosidades e passatempos que os levem a refletir sobre a necessidade de proteger a liberdade constantemente e a detectar sinais de alarme quando esta é ameaçada. 


Referências e influências estéticas 

Este projeto foi inspirado na Literatura de Cordel, com panfletos apresentados ao público, presos por molas, ao longo de um cordel. Esta prática antiga em Portugal, levada para o Brasil, onde é muito popular no nordeste, e era uma forma de levar histórias e folclore para a população mais simples, na sua maioria analfabeta, de forma que se informassem a partir de textos simples e que recorrem a rimas. 

As imagens dos folhetos da Literatura de Cordel são criadas com xilogravuras, uma antiga técnica de impressão, que recorre à gravação das imagens em madeira e posteriormente são cobertas de tinta para serem repassadas para o papel, por isso, na sua maioria, possuem apenas uma cor, frequentemente o preto. 

Esta estética foi escolhida, uma vez que visa democratizar a informação ao usar modelos simples de comunicação e por isso adequado aos mais diversos perfis de público. O tema do projeto interessa a todos, de crianças a adultos, e impacta não somente o nosso presente, mas uma sociedade que seremos capazes de deixar para os que estão por vir. 


Jaqueline Moreira é formada em Gestão de Empresas, MBA em Gestão Estratégica, Mestre em Marketing e doutoranda em Media e Arte Digital. Além da carreira acadêmica, como docente e doutoranda, também se dedica à escrita de livros infantis e ilustração. Criadora do projeto audiovisual “Ana Galocha”, voltado para o público infantil, que já conta com quatro curtas selecionados para 

Mostras de Cinema, sendo dois deles vencedores nas suas categorias. Voluntária no Museu Monográfico de Conimbriga, na área de Desenho Multimedia, para encontrar soluções na criação de material infantil sobre o espaço.