10:00 – Critical Digital Humanities

10:00, quinta-feira, dia 13

Ao contrário do que pode sugerir o título desta conferência, não se traçará aqui o repúdio à utilização de métodos computacionais aplicados ao estudo das Humanidades e das Artes. Defende-se, sim, uma necessidade de revisão crítica permanente de um campo, o das Humanidades Digitais. É inegável que, desde os inícios do século XXI (embora o manifesto que as orienta date de 2012), as Humanidades Digitais têm questionado, em primeiro lugar, o modo como as Humanidades se observam a elas próprias. Hoje, cabe perguntar ao homo digitalis, num momento em que parece não só desnecessário como ridículo se extrair o próprio atributo à designação da nossa espécie, que sentido ainda recolhe o termo Humanidades Digitais. Após a euforia da digitalização, convenientemente acompanhada do oposto ódio à mesma digitalização enquanto promotora de um apocalipse anunciado, importa questionar: onde nos encontramos?

Ironicamente, quando a aplicação de métodos quantitativos e algorítmicos ao estudo do Homem e às suas práticas criativas foi devassada pela chegada apoteótica da Inteligência Artificial, começa a esboçar-se um movimento internacional designado Critical Digital Humanities, que sinteticamente encara as Humanidades Digitais a partir do prisma das desigualdades: de género, de língua, de geografia ou que ainda denuncia a sua vinculação a lógicas capitalistas, ao mesmo tempo que reivindica o papel indispensável do julgamento humano como decisor das possibilidades propostas pelas máquinas.

Todas estas questões serão discutidas nesta conferência, bem como se convocarão os permanentes contrastes que têm pautado, não raro entrando pelos corredores do absurdo e da esquizofrenia, o labor de humanistas e artistas. Referimo-nos à euforia e à disforia, à utopia e à distopia que a digitalização das Humanidades veio promover junto da Academia. Por isso mesmo, critical.

Sandra Boto é Investigadora Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa desde setembro de 2020, desempenhando funções no IELT. Doutorou-se em Línguas, Literaturas e Culturas – Estudos Literários pela Universidade Nova de Lisboa, com a tese As Fontes do Romanceiro de Almeida Garrett. Uma Proposta de Edição Crítica (2012). A sua investigação de doutoramento foi desenvolvida com o apoio de uma bolsa concedida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, bem como o projeto de pós-doutoramento O Romanceiro de Almeida Garrett. A edição crítica integral em formato digital, acolhido pelo Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra e pelo Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, que desenvolveu entre 2013 e 2019. Ensinou e investigou na Universidad de Huelva, na Universidade do Algarve e na Universitat Autònoma de Barcelona, onde dirigiu o Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões. Da sua experiência docente, destaca-se o ensino de Português para Estrangeiros, de Literatura Espanhola e de Humanidades Digitais.