Exposição de Projetos de Arte Computacional
A exposição dos artefactos realizados no âmbito do Doutoramento em Média-Arte Digital é um momento de elevada experimentalidade e um dos pontos altos do retiro anual que visa proporcionar um espaço de experimentação e teste junto do público.
Este ano, em função da pandemia do Covid-19, a exposição tem lugar online, com todos os desafios que isso acarreta, obrigando a reconfigurar espaços domésticos, provisoriamente transformados em espaços de demonstração, a criar mais e melhor documentação e registos videográficos de suporte, para melhor transmitir a ideia do trabalho realizado.
Procuraremos, assim, restabelecer um contacto direto entre artistas e público, mesmo em videoconferência, que permita o enriquecimento da exploração e investigação dos próprios artefactos.
Em tempos de pandemia, de distanciamento social, por contingência, e de incertezas, por consequência, afastámos-nos fisica e socialmente uns dos outros. Torna-se agora imperativo re-ligarmo-nos com o essencial, no momento em que fazemos um reboot nos comportamentos automatizados, e antes que os substituamos por outros. É importante refletir sobre modelos ultrapassados – de economia, de política, de criação – de um mundo, que é o nosso.
Graças ao digital, ao online, tem sido possível a manutenção das relações, do ensino-aprendizagem, do conhecimento mútuo e das artes. Nesta primeira edição online, a exposição de artefactos de arte computacional do Doutoramento em Média-Arte Digital também se viu obrigada a reinventar-se, e cada artista teve de procurar soluções que não tinha planeado inicialmente.
Os trabalhos que a compõem são alvo de atenção dedicada nas unidades curriculares de Projeto de Arte Computacional e de Intervenção Artística e Interculturalidade, que promove uma curadoria participativa e colaborativa por parte dos próprios artistas/estudantes.
Nós, artistas, investigadores, estudantes e docentes estamos divididos entre vários países e continentes: do Brasil a Portugal, da China a Moçambique. Mas resistimos ao distanciamento no mundo real e re>>ligamo-nos ao essencial através do digital.
universalidade+internet*reset+on*reboot/upload^like*in = re>>connecting
Foi esta a equação que conduziu ao conceito de re>>connecting, onde o símbolo >> assinala um sentido de progressão, não só relacionado com a leitura (esquerda-direita), mas também com o lançamento destas ligações de união para o futuro, que não precisam de ser físicas para serem reais, e que serão restabelecidas todas as vezes que forem necessárias, em todos os formatos disponíveis.
Destaque ainda para re>>connecting, onde on nos remete para online e in para a Internet, para o estar por dentro (das relações familiares à distância, do teletrabalho, da escola dos filhos – e o doutoramento dos pais), traduzindo uma obrigatoriedade sentida no tempo presente: estar on para estar in.
“Para mim o re>>connecting tem a ver com o público voltar à arte. Tenho até visto em alguns jornais sondagens em que, na opinião global, o artista é o primeiro elemento a descartar da sociedade. Então, a meu ver, o re>>connecting incorpora uma oportunidade para os artistas planearem um futuro em que a sociedade não os veja como descartáveis, uma re-conexão do público com a arte.“
“Para alguns colegas, o re>>connecting tem a ver com o voltar à normalidade, ao que era em fevereiro passado (isto em Portugal), re-instalar as rotinas. Penso que há ainda colegas para quem o conceito se relaciona com o facto de a exposição ser online, logo faz todo o sentido que seja uma conexão.“
E para os nossos visitantes, qual o sentido que re>>connecting encerra? Como o interpretam e vivem? Qual o papel que a tecnologia tem trazido na arte de viver de cada dia?
A exposição oferece experiências imersivas e obras artísticas suportadas por tecnologias digitais para propor o restabelecimento de uma conexão geral com a criatividade e a valorização do humano. Um reset à vida natural por contraponto à alienação consumista, um upload de liberdade criativa em confronto com uma cultura da vigilância e do controle de massas, um voltar a dar atenção à palavra, às histórias, à valorização do lugar, do corpo, do feminino, dos ecossistemas, da vida natural, do planeta. Um refresh das relações, da crítica e da consciência.
Cada projeto é apresentado individualmente, e todos eles são complementados com a exibição do respetivo Diário de Bordo, um retrato do processo criativo ao longo do ano curricular, registando impulsos criativos, bifurcações, decisões, reverberações, rejeições e conclusões, lançando uma nova luz sobre a real complexidade da criação artística até ao momento da exposição pública.
Para além do momento da inauguração, existirão mais dois momentos dedicados à exposição, à apresentação das obras e debate com os artistas:
20 julho 16:00 – 17:30
Palavras-chave: curadoria, participação, colaboração, divulgação, interação
Endereço de videoconferência: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/97145729450
Auschwitz do Pós-Moderno propõe um re>>connecting do público com situações atuais, perante imagens de catástrofes, e de as relacionar para que se possa refletir sobre o que vê, ao mesmo tempo que interage com o som. Com isto cria-se um dilema, em que o público ou se concentra na imagem ou no som, sendo obrigado a fazer uma escolha, consciente ou não, à semelhança do que se passa no mundo, em que as pessoas também têm essa escolha de agir perante o que vêm – ou não.
O Conto Interativo da Bordadeira assume um re>>connecting com a valorização da tradição, da identidade e da cultura popular portuguesa, o lugar, a cultura oral, as narrativas de base popular atravessadas pela história e pela literatura.
Ivagination conduz-nos a um re>>connecting com a liberdade do corpo e da sexualidade feminina através da força da ancestralidade e da autobiografia, enquanto instrumento de resistência e transformação dos valores patriarcais opressores. O corpo da mulher é objeto de apreciação e depreciação no sistema patriarcal, e a sua genitália é simultaneamente foco de desejo, prazer, aversão, perversão, violência, tabu, vergonha, empoderamento, desconhecimento e, também, mistério.
Mean inspira um re>>connecting entre a força e o valor da mensagem, e o pensamento crítico, em tempos onde a verdade e a mentira se confundem graças a uma cultura da desinformação e de fake news . Será que o nosso juízo deve prevalecer na avaliação do que nos é fornecido ou devemos aceitar qualquer informação, tal como nos é entregue?
Pelo Futuro do Passado provoca um re>>connecting dos 4 elementos primordiais com a consciência e a ética, questionando o mundo, a sociedade e a vida através de um processo de interação. Visa, assim, um re>>connecting de significados e um reforço de sentidos sobre o ambiente, a vida e a globalização. Não nos dá respostas, mas interroga-nos sobre as nossas escolhas.
Vandalismo ao Crepúsculo propõe, através de uma experiência imersiva, um re>>connecting com a liberdade de escolha entre o imediatismo e a ponderação, entre os instintos mais violentos e os mais criativos: é mais fácil destruir ou construir? Que tipo de apelo exerce sobre nós a possibilidade de vandalizar as obras de terceiros, numa época em que assistimos à destruição de ícones e estátuas?
who AR we? confronta-nos com o re>>connecting da noção de presença e observação, onde um poderio económico e governamental pervasivo utiliza a tecnologia, muitas vezes de forma dissimulada, para recolha de dados e criação de sistemas de informação; e um re>>connecting entre a persona física e a persona digital para a redefinição do pós-humano.