Das Belas-Artes às Belas Tecnologias

Masterclass

É um facto que os mecanismos fisiológicos afetos à perceção visual se
desenvolveram em função da sobrevivência dos organismos no seu meio ambiente.
Todo o sistema visual se encontra em permanente alerta, seja para regular funções
orgânicas elementares, seja para despoletar a reação a eventuais situações de perigo.
Em função dessa exigência, o dispositivo visual desenvolveu uma enorme
maleabilidade face a múltiplos estímulos – luz ou ausência desta, movimento lento,
rápido, muito rápido, etc. Trata-se de operações aparentemente simples, mas que
foram fruto, ao longo do tempo, de uma complexa evolução dos órgãos. Quando
existe irradiação de luz, esta é imediatamente detetada através de uma reação
automática, inconsciente, e o mesmo se passa em relação à deteção de movimento ou mesmo à necessidade de centrar um objeto no nosso campo visual, para o isolarmos e o reconhecermos através da sua forma, escala, cor ou textura. A neurociência tem-nos elucidado como, na perceção visual, as imagens se formam, em grande parte, já na própria retina, constituindo aquilo que se designa por campo ou ambiente retiniano.

Este específico ambiente no qual as imagens se apresentam será apenas um passo um conjunto de operações intrincadas, que implicam toda a complexidade do sistema neuronal. Mas, na sua expressão imediata, contemplar/perceber imagens, expondo-as diretamente na retina, significa explorar fisiologicamente o campo visual, mapeando no córtex visual a sua projeção na retina. Isto ocorre sobre o pano de fundo da relação (em permanente movimento) entre o organismo e o ambiente, a qual o aparelho percetivo pode limitar-se a simplesmente duplicar e confirmar. No entanto, nesse contexto, o mínimo facto relevante vai ser imediatamente registado e induzir uma reação.

O campo retiniano forma um ambiente singular no contexto do nosso complexo sistema visual, e pode-se considerar o ponto de partida para a contemplação do mundo. Assim, tendo em conta o presente contexto, a maior ou menor acuidade com que observamos um objeto prende-se com a curiosidade e a atenção sobre o mesmo e as suas implicações para a própria sobrevivência.

Com os desenvolvimentos tecnológicos , em particular, a partir de meados do séc. XX, e no domínio da neurociência, o presente debate em torno do sistema visual deu um “salto” estimulante para a investigação daquilo que se designa por imagem. Um dos primeiros pontos que temos que reter refere-se, invariavelmente, a uma grande parte do processamento visual parece ocorrer na própria retina, que possui mecanismos extremamente especializados de tratamento da informação recebida pelos fotorreceptores. Trata-se, provavelmente, de um número não especificado de vias neuronais paralelas, recebendo cada uma o seu tipo de informação, de acordo com uma frequência espacial que está adaptada a esse tipo de informação. Ou seja, novas tecnologias novos entendi mentos sobre a “+magia” das imagens, das imagens visuais em particular.

Pedro Cabral Santo estudou Pintura e Escultura nas Faculdades de Belas-Artes de Lisboa e Porto, especializando-se nas áreas expressivas afetas à instalação e à vídeo-instalação. Em paralelo, nos últimos 20 anos, tem vindo a desenvolver as atividades de artista plástico e comissário de exposições, destacando-se os eventos Tilt (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa), O Pedro e o Lobo (Museu do Neorrealismo, Vila Franca de Xira), Unconditionally (Colégio das Artes – Universidade de Coimbra, Coimbra), Il Communication (com Carlos Roque, Sala do Veado, Lisboa), X-Rated/Autores em Movimento (Galeria ZDB, Lisboa), Sem Dó, com Ré – homenagem a Sá de Miranda (Museu do Chiado, Lisboa), trabalho incluído nas comemorações dos painéis de São Vicente de Nuno Gonçalves, realizado em parceria com a artista Lula Pena. De realçar, como comissário, os eventos O Império Contra-Ataca (co-comissariado, Galeria ZDB/Instituto La Capella (MACBA), Lisboa e Barcelona), Espaço 1999 (co-organizador, Museu de História Natural, Lisboa), Fernando Brito 1983-2010 (Centro Cultural Vila Flor, Guimarães), Gabinete >Linfa de Pedro Saraiva (Museu Branco, Lisboa), Distopia, (Pavilhão 31, Lisboa) e Manuel Vieira – CASA (Cordoaria Nacional, Lisboa.

Como membro do Pogo Teatro participou em diversos espetáculos levados à cena pelo Grupo, através da produção de textos, realização cenográfica e também como performer e actor.

Foi também fundador dos projetos artísticos Autores em Movimento (Greenhouse/Jetlag/X-Rated) e featuring (Unlovable). No plano musical, foi membro fundador do projeto musical IK-MUX e, atualmente, coordena o PROJECTO FUZIVEL, música experimental de fusão. Entre 2019 e 2020 lançou os livros Sound Climax e The Power Of Love, breves anotações sobre a Imagem Artística.

Atualmente é docente no Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve.