Auschwitz do Pós-Moderno
Um projeto de arte computacional de Rui Travasso.
Com o restabelecimento da paz após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade acreditou que atrocidades como as cometidas nos campos de concentração dificilmente voltariam a ser vistas. O mundo avançou, e o capitalismo trouxe o consumo desmedido, a tecnologia criou as redes sociais, e o ser individualizou-se reformulando o conceito de ligação social.
As redes da sociedade transformaram-se e milhares de amigos digitais substituíram as dezenas dos normais amigos presenciais. A desresponsabilização social através do digital, tornou ainda mais fácil o olhar para o lado quando nos sentimos desagradados. Imagens das tragédias do quotidiano conduzem-nos a pensamentos de que são horrores distantes e, despreocupados, ou sensibilizados por meia dúzia de segundos, voltamos a mudar o canal da tv cabo. Vivemos numa era dum mundo multicultural e global, mas a consciência individual generalizada continua a ser originária do egocentrismo.
O andamento Abîme des oiseaux, da obra Quatuor pour la fin du temps, de Olivier Messiaen é usado para criar uma anamorfose, amplificada pela interação do visitante, e desta forma personificar a hipótese que o individual tem para alterar o coletivo. Perante as imagens das atrocidades, quer do passado, quer do presente, o visitante será confrontado com duas opções através do som: ficar imóvel, o que irá fazer com que a sonoridade da obra continue intacta, personificando a indiferença; mover-se numa tentativa de explorar o áudio, personificando o espírito de mudança.
A obra no fundo representa uma antítese pois, a quem fica imóvel, não lhe será permitido mudar de canal e terá de observar o horror até final, enquanto que a quem for interagindo perderá o foco do vídeo.
Assim, Auschwitz do Pós-Moderno, trabalha o equilíbrio da ação com a abstenção, o equilíbrio entre o som e a imagem.
Diário de bordo
ficha Técnica
Lista de componentes físicos
– Cadeira
– Candeeiro
– Móvel para a televisão e computador
– Colunas
– Computador
– Televisão
– Extensão tripla
– WebCam
– Calhas para ocultar cabos
Lista de recursos
– Código de programação em Processing
– Vídeo
– Áudio
Montagem
O artefacto deverá ser montado como se duma sala de estar se tratasse, diria que o ponto em que se situa entre a cadeira e a televisão deveria ser o centro da sala, ou seja, perfeitamente colocado no centro. O candeeiro deverá ser colocado com a luz ligada num dos lados da cadeira.
A televisão estará num móvel de frente para a cadeira assim como a WebCam, o computador encontrar-se-á escondido na parte inferior, fechado por uma porta situada na parte detrás do móvel. Todas as ligações entre televisão e computador, WebCam e computador, e de todos estes objetos à eletricidade, deverão situar-se dentro do móvel de modo a não estarem visíveis. As colunas ficarão no chão, uma em cada lado do móvel.
O computador assume o lugar de destaque pois enviará o vídeo já editado para a televisão e o áudio para as colunas.
Rui Travasso
Rui Travasso nasceu em Évora, cidade onde começou a aprendizagem da música nas extinta Escola Profissional de Música de Évora. É licenciado em clarinete pela Escola Superior de Música de Lisboa, pós-graduado em performance clássica pela Hogeschool voor de Muziek em Tilburg na Holanda, pós-graduado em Administração e Organização Escolar pelo Instituto de Estudos Superiores de Fafe e mestre em ensino da música pelo Instituto Piaget de Almada.
Mantém uma atividade preenchida quer no campo performativo, o qual desempenha a função de Solista A na Orquestra Clássica do Sul, quer o campo educacional sendo docente de clarinete no Conservatório de Música de Loulé. Gravou álbuns com Primitive Reason, Joana Amendoeira, Catarina Pinho, Mara, entre outros.
Atualmente é doutorando em Média-Arte Digital da Universidade Aberta, onde procura desenvolver competências que lhe permitam explorar a multidisciplinaridade tendo como base a música e a média-arte digital.